ENVELHECIMENTO CUTÂNEO
Envelhecer é natural e deve ser um processo sem traumas e com cuidados adequados. No início do século passado, a longevidade do homem era bem menor: a média de vida era cerca de 50 anos. Hoje, um número maior de pessoas chega à terceira idade, atingindo 80 a 90 anos com certa facilidade. Ao mesmo tempo em que cresce a expectativa de vida, valoriza-se cada vez mais a juventude, o jovem e o belo são cultuados como ideal e as pessoas sofrem muito em decorrência do envelhecimento.
Segundo a Dra. Denise Steiner, o envelhecimento é caracterizado pelo desgaste dos vários setores do organismo, gerando alterações no seu funcionamento. "Muitas teorias tentam explicar o mecanismo do envelhecimento, mas nenhuma delas compreende satisfatoriamente a gênese completa do processo. A longevidade maior de certas raças e mesmo de certas famílias corrobora a ideia da influência genética em relação ao envelhecimento. Os genes podem codificar a mensagem para o início do processo do "envelhecimento", informa, completando que as informações genéticas, com o tempo, talvez fiquem inadequadas, propiciando defeitos incompatíveis com o funcionamento celular perfeito.
Segundo a darmatologista, os radicais livres também participam da gênese do processo, originando reações químicas, principalmente a oxidação. Estas reações desencadeiam processos nocivos ao organismo e são influenciadas por radiações, doenças, fumo, estresse. Além disso, as alterações hormonais, a falência ou deficiência do sistema endócrinco participam das alterações próprias do enveihecimento.
O sistema imunológico, responsável pelo processamento das defesas do organismo, também desgasta-se com o passar do tempo. As funções imunológicas, principalmente aquelas ligadas à imunidade celular, tornam-se deficientes, propiciando ao idoso maior número de processo infecciosos, inflamatórios e carcinogênicos.
Fotoenvelhecimento
A pele, como maior órgão do corpo humano, também apresenta sinais de envelhecimento, os quais tornam-se evidentes devido à sua característica de envoltório protetor.
O envelhecimento cutâneo pode ser dividido em envelhecimento intrínseco e fotoenvelhecimento. O primeiro representa aquele comum aos órgãos e o segundo mais intenso e evidente, é o que ocorre devido aos danos causados pela radiação ultra-violeta.
O envelhecimento causado pela idade é mais suave, lento e gradual, causando danos estéticos muito pequenos. Já o fotoenvelhecimento é mais danoso e agressivo à superfície da pele, sendo responsável por modificações como rugas, engrossamento, manchas e o próprio câncer de pele.
O fotoenvelhecimento não é intensificação do envelhecimento cronológico, mas tem características próprias muito diferentes do envelhecimento comum. Sendo assim, a pele vai apresentar características diferentes em áreas expostas e não expostas. Além disso, o Sol passa a ser o principal fator em relação ao fotoenvelhecimento.
O espectro eletromagnético da luz tem vários tipos de radiação com diferentes tipos de comprimento de onda. As radiações apresentam diferentes penetrações e respostas relacionadas ao seu comprimento de onda e ao local onde será absorvida. Os fótons que carregam esta energia são absorvidos por moléculas da pele que a transformam em calor. Neste processo, dependendo da radiação e da energia, pode haver um dano importante no DNA celular.
As ondas mais importantes relacionadas ao fotoenvelhecimento são aquelas chamadas de radiação ultra-violeta. As radiações com comprimento de onda menor que 200nm não ultrapassam a camada de ozônio e em geral não atingem a pele. As radiações ultra-violeta B e ultra-violeta A são aquelas mais relacionadas aos danos causados à pele e também as mais conhecidas e estudadas. A luz visível e a radiação infravermelha também causam prejuízos à pele e suas ações vêm sendo muito pesquisadas nos últimos anos. Várias referências demonstram que essa parte do espectro pode potencializar os efeitos maléficos da radiação ultra-violeta B e A.
Resumidamente podemos afirmar que a radiação ultra-violeta B causa danos agudos à cútis tais como: avermelhamento e queimaduras e danos crônicos como câncer de pele e envelhecimento. Essa radiação penetra superficialmente e está principalmente entre as 10 e 15 horas do dia. A radiação ultra-violeta A penetra mais profundamente na pele atingindo a derme causando menos eritema e queimadura. No entanto, devido a sua maior penetração, é responsável pelo envelhecimento e também pelo câncer de pele. Ela está presente durante todo o dia.
Outra alteração marcante causada pelo Sol é a dimimução das células de Langerhans, responsáveis pela resistência imunológica da pele.
Gênese do envelhecimento cutâneo
O processo de envelhecimento do organismo está relacionado com a perda da capacidade funcional e de reserva, mudança da resposta celular aos estímulos; perda da capacidade de reparação e predisposição do organismo à doença. As células humanas têm capacidade finita de reprodução, entrando, então, no processo chamado senescência. A idade é paralela a senescência celular e tem o mesmo controle genético. Existem exceções como células germinativas, stem cells (totipotentes) e células cancerosas que se reproduzem sem parar, influenciadas por mecanismos desconhecidos.
O telômero é a porção terminal do cromossomo eucariótico e o protege da degradação. Com a idade, o telômero torna-se mais curto em todas as células, menos naquelas germinativas e cancerosas. Estas têm maior quantidade de telomerase, que é uma transcriptase reversa com capacidade de replicar o telômero. A telomerase expressa-se nas células germinativas e cancerosas evitando o desaparecimento do telômero e consequentemente o desgaste e senescência das células.
A oxidação ocorre constantemente no organismo humano causando dano, principalmente, ao DNA celular. Ela aumenta com a idade e nas células senescentes. Quanto mais oxidação, menor grau de reparação, maior número de mutações, maior deterioração celular e maior formação de tumores.
No envelhecimento do organismo há queda dos hormônios de uma maneira geral. Ocorre a andropausa, com diminuição dos andrógenos, a menopausa, menor quantidade de estrógenos, e também a chamada somatopausa, que é o rebaixamento do nível do hormônio do crescimento, produzido durante o sono pela glândula pituitária em grande quantidade na puberdade, completando que sua diminuição provoca perda da massa magra e aumento do depósito de gordura. Homens de mais de 60 anos, quando tratados com hormônio do crescimento aumentam a massa muscular, perdem excesso de gordura e aumentam o tônus da pele. A reposição do hormônio do crescimento vem sendo cogitada em certas situações específicas.
Existem diferenças marcantes entre o envelhecimento intrínseco e o fotoenvelhecimento que são coerentes com as alterações bioquímicas e moleculares. No envelhecimento pela idade, a textura da pele é lisa, homogênea e suave com atrofia da epiderme e derme, menor número de manchas e discreta formação de rugas. No fotoenvelhecimento a superfície da cutis é áspera, nodular, espessada, com inúmeras manchas e rugas profundas e demarcadas. Histologicamente, a atrofia e retificação da epiderme no envelhecimento cronológico contrasta com a acantoso da pele actínica. Os queratinócitos são normais na primeira e displásicos na pele fotoexposta. Os melanócitos estão diminuídos conforme a idade, mas aumentam em número e distribuem irregularmente o pigmento na pele lesada pela luz ultravioleta. A pele envelhecida tem menor quantidade de elastina e colágeno e vascularização normal. Na pele actínica aparece a zona de GRENZ (faixa eosinofílica cicatricial). As fibras de cólágeno têm maior desorganização e as elásticas transformam-se em massas amorfas (elastose), enquanto os vasos têm parede duplicada e enfiltrado linfohistiocitário ao seu redor, caracterizando a heliodermatite.
Tratamento
O tratamento do envelhecimento cutâneo passa pela observação dos fatores envolvidos no seu desenvolvimento, como envelhecimento cronológico, fotoenvelhecimento, flacidez, linhas de expressão.
Na prevenção do fotoenvelhecimento o filtro solar de amplo espectro, utilizado a longo prazo, diminui o número de manchas, rugas leves e previne o aparecimento de queratoses e câncer de pele. Sabe-se hoje que seu uso precoce e continuado evita o dano cumulativo e previne o envelhecimento actínico. A tretinoína continua sendo o tratamento tópico mais conhecido e embasado para o fotoenvelhecimento, agindo nas diversas camadas da pele.
A tretinoína ou ácido retinóico promove uma compactação da camada córnea, a proliferação da camada espinhosa, uma diminuição da atipia celular e normalização do número e da atividade dos melanócitos. Atua também na derme promovendo o aumento do colágeno tipo VII, angiogênese, aumento a síntese de colágeno e diminuição da massa elastótica.
Muitos princípios ativos vêm sendo empregados para diminuir os efeitos do tempo na pele. As vitaminas antioxidantes, como a vitamina C e a vitamina E, são benéficas tanto por via sistêmica como tópica e além do efeito antioxidante apresentam ação fotoprotetora discreta, que, somada aos benefícios dos filtros solares, melhora também a formação de colágenos. Outra classe de princípios ativos muito úteis no tratamento do envelhecimento da pele é a dos fitoestrógenos. Normalmente utiliza-se a isoflavona e o extrato glicólico de soja que ajudam a suprir a falta de hormônio feminino na pele. Estas formulações agem melhorando a hidratação e a elasticidade da pele, pelo seu efeito hidratante, anti-oxidante e renovador celular.
O cobre, oligoelemento essencial para o organismo, também vem sendo empregado no combate ao envelhecimento. Age estimulando a atividade dos fibroblastos e a produção de colágenos, confere maior firmeza a elasticidade à pele, suavizando as rugas. O dimetilaminoetanol (DMAE ou deanol) é uma droga que recentemente vem sendo muito utilizada no tratamento da flacidez cutânea. Os trabalhos apresentados pela indústria famacêutica responsável pela comercialização do produto parecem promissores. Entretanto, ainda é necessária uma análise mais prolongada da droga, o DMAE age otimizando a liberação de acetilcolina, melhorando, assim, a concentração muscular. Sabe-se que promove melhora na hidratação e turgor da pele, conferindo-lhe maior firmeza, suavizando as rugas. Todos estes princípios ativos citados são utilizados, para o tratamento tópico, sob a forma de géis, cremes e loções. No entanto, há outras alternativas mais invasivas e muito efetivas no tratamento do envelhecimento.
Os peelings químicos são capazes de remover parte da pele, de acordo com a profundidade com que são realizados, promovendo uma renovação e regeneração da pele. Quanto mais profundo for o peeling, mais efetivo contra o fotoenvelhecimento. Em casos de rugas profundas e elastose solar, os peeling profundos, como o fenol e o resurfacing com laser de CO2, são mais indicados. A recuperação no tratamento com esse peelings é mais demorada, porém são os mais profundos os que garantem um rejuvenescimento cutâneo marcante e duradouro.
Outra opção muito utilizada para correção de sulcos é o preenchimento cutâneo, no qual são utilizados diversos preenchedores, principalmente à base de ácido hialurônico.
A toxina botulínica tipo A vem sendo utilizada para tratamento estético há aproximadamente 10 anos. Essa toxina atua por meio da paralisação de feixes musculares específicos, causando a atenuação das rugas de expressão. Seu efeito inicia-se 48 horas após a aplicação e, no máximo em 15 dias. A duração dos efeitos benéficos é de 4 a 6 meses, depois desse período os músculos reassumem os seus movimentos originais. Apesar de certa polêmica que envolve tal técnica, quando efetuada por profissionais habilitados, tem pouco percentual de complicações e bons resultados.
Não se pode esquecer das várias técnicas de cirurgia plástica, como o lifting e a blefaroplastia, capazes de atenuar rugas e eliminar sobras de pele e flacidez. Tratar o envelhecimento é um desafio, porém, a cada dia, torna-se mais presente no dia-a-dia das pessoas.
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